Uma história baseada em factos reais passada no decurso do Acampamento das Moças Mórmons da Cidade de Setúbal
A patrulha perdida
As
agulhas dos pinheiros e as folhas dos viçosos medronheiros abanavam suavemente,
naquela zona da serra, onde àquela hora se começava a sentir uma ligeira aragem,
que embora quente, sempre ajudava a minimizar os efeitos da solarenga e tórrida
tarde de verão.
A
patrulha feminina Pantera, composta por escuteiras novatas, seguia uma pista
previamente marcada pelo chefe, que utilizando ramos de árvores, pedras soltas,
ou simplesmente riscando no solo ressequido a tinha marcado, fazendo alguns
sinais daqueles usados pelos escuteiros.
Aquela
região era muito utilizada para provas de escuteiros, por isso eram visíveis
alguns sinais de pista que os mais atentos veteranos verificavam que não tinham
sido feitos recentemente, porém para as novatas, todos os sinais eram
considerados fiáveis.
O
chefe ao marcar a nova pista tinha tido o cuidado de desfazer todos os outros
sinais que se encontravam no terreno. Porém como tinha apenas disposto de uns
breves minutos para o fazer, muitos daqueles mais antigos ficaram por apagar.
Normalmente
numa prova ou jogo de pista, a última patrulha, equipa ou dirigente deve
destruir os sinais utilizados, todavia naquela zona da serra verificava-se a
existência de vários que não tinham sido oportunamente destruídos, levando as
novatas a confundir pistas.
As
quatro patrulhas saiam do acampamento a intervalos espaçados, de forma a não
poderem ver-se umas às outras e as “panteras” foram a segunda a sair.
As
moças quase corriam pelos carreiros do mato e nem sempre o seu olhar focava o
solo onde se encontravam os sinais de qual o caminho a seguir, a evitar, ou
mesmo de uma qualquer mensagem escondida.
E
foi por isso que um dos dirigentes que controlava o jogo, algumas dezenas de
metros após a saída desta patrulha e verificando que a mesma não teria reparado
num sinal que indicava mensagem escondida, a mandou parar para lhes chamar a
atenção para a forma correta de seguir pelos trilhos e observar os sinais.
As
panteras que quase corriam pelo trilho como se de uma prova de corta-mato se
tratasse, prometeram tomar mais atenção e prosseguiram.
A
primeira patrulha já tinha passado e as outras duas que precediam a Pantera,
percorreram os trilhos, evitando uns, seguindo outros, de acordo com os sinais que avistavam,
até atingirem o objetivo e retornarem ao ponto de partida.
As
tendas daquele grupo de jovens estavam montadas de forma a ver-se o ponto mais
alto da cordilheira da Arrábida. Diversos arbustos com destaque para os
medronheiros, ainda com os seus frutos pequenos e verdes tornavam o espaço mais
agradável.
As
três restantes patrulhas do grupo já tinham chegado ao acampamento e estavam
agora reunidas a tentar decifrar uma complexa mensagem escrita em código
alfa/numérico, focando ali toda a sua atenção.
Porém,
da Patrulha Pantera nem sinal, o que levou a chefia de campo a tentar
estabelecer contacto com a mesma, via telemóvel. Mas, a fraca cobertura da rede
naquela zona da serra foi motivo impeditivo de sucesso.
O
chefe de campo decidiu então partir acompanhado de mais dois membros do Grupo
de forma a tentar resgatar a patrulha que já era para si considerada como
estando perdida na serra.
Entretanto,
após algumas centenas de metros percorridos pela pista, a Patrulha Pantera
viu-se confrontada com sinais antigos e enveredou por um trilho diferente.
Outros sinais de pistas antigos, assinalando “caminho a evitar”, fizeram-nas
seguir por percurso diferente.
Era
a primeira vez que seguiam uma pista, não conheciam o local onde se encontravam
e rapidamente perderam o controle da situação. A guia da Patrulha seguia à
frente e dava as diretivas, no final da fila indiana seguia uma líder que nada
dizia, propositadamente, e se comportava como um mero membro da patrulha.
As
moças estavam cansadas, sentiam-se perdidas e sem saber por onde seguir. Uma
delas sugeriu então que orassem ao Pai Celestial pedindo a Sua ajuda. A
sugestão foi logo aceite pelas restantes e, meio do mato, as jovens pararam e
reverentemente uma delas, orando em nome de todas ao Senhor pediu que as
ajudasse a encontrar o caminho.
A
líder que seguia em último lugar da fila, mas que também não era conhecedora
daquela zona, tomou a palavra para dizer às jovens que ficassem quietas naquele
mesmo local de oração, enquanto iria com outro elemento tentar encontrar o trilho
de regresso ao acampamento em vez de continuarem a progredir para terreno
desconhecido.
Poucos
minutos volvidos e eis que encontram um antigo sinal de pista de “caminho a
seguir” que apontava para o sentido oposto ao que seguiam. A líder deduziu que
o mesmo deveria indicar a zona de campo de onde teriam partido. Retornando ao local onde tinha ficado a patrulha, reuniu-a e fez com que a seguissem na direção do sinal indicado.
Meia hora depois a Patrulha Pantera estava a entrar no recinto do acampamento, vindo as moças cansadas e desiludidas por não terem concluído todo o percurso como o tinham feito as colegas das outras três patrulhas.
Poucos minutos depois a equipa de resgate estava também de regresso ao campo depois de ter sido informada, pelo sistema de rádio, do regresso da patrulha perdida.
As moças da Patrulha Pantera aprenderam com esta lição que deveriam não só estar atentas às instruções ministradas antes de entrarem na pista, como também depois de lá estarem prestarem toda a atenção aos sinais marcados no solo. Aprenderam também que em caso de aflição não se deve perder a cabeça e se for caso disso fazer como o fizeram, pedindo o apoio do Pai Celestial que vela por todos os seus filhos onde quer que se encontrem.
Rui Canas Gaspar
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